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ENTREVISTA | Desaceleração nos investimentos em startups: como superar essa fase de incertezas?

Entrevista com Gustavo Galli, Diretor de FP&A e Relações com Investidores da Movile

Nos últimos tempos, diversas notícias sobre demissões em massa ocorridas em startups têm circulado pelos portais de notícias e demais veículos de comunicação.


Uma das razões é a desaceleração nos investimentos em startups, que tem levado essas empresas a se ajustarem a um novo cenário, o qual é decorrente do aumento das taxas de juros para conter a pressão inflacionária e também do stress sentido pelo mercado financeiro mundial devido à guerra na Ucrânia.


Por conta dessa atual situação, boa parte dos(as) investidores evitam direcionar suas aplicações para negócios inovadores, visto que são negócios de alto risco, a exemplo do que acontece com as startups.


Em momentos economicamente incertos como esse, os(as) investidores costumam procurar por ativos mais sólidos e sustentáveis, o que diminui as chances de perdas financeiras.


Mas será que essa desaceleração nos investimentos em startups é apenas uma condição passageira, ou indica que a bolha estourou?


Os impactos da desaceleração nos investimentos em startups

Conforme revelou a pesquisa da Movile "Panorama Latam", o Brasil recebeu entre os anos de 2017 e 2021 um total de US$ 17.517 bilhões em investimentos em startups, resultado de 2.569 deals.


De acordo com dados da Distrito, citados em uma matéria da Forbes, a estimativa é que, até o final de 2022, as startups brasileiras recebam US$ 12,9 bilhões em aportes, o que significa uma porcentagem menos expressiva, de apenas 34,6%.


Para Gustavo Galli, Diretor de FP&A e Relações com Investidores da Movile, é importante destacar que os cenários econômicos são cíclicos e que o fenômeno atual é global e não apenas nacional.


"A alta inflação — reflexo dos efeitos globais pós-covid e agravada pela guerra da Ucrânia — e as incertezas globais, levaram a sucessivos aumentos de juros pelos bancos centrais.


O esforço para conter uma inflação crescente fez com que o capital utilizado em investimentos de maior risco migrasse para opções mais seguras, como a renda fixa.


Esse movimento levou a uma redução do apetite a risco por parte dos investidores, atingindo fortemente a atratividade da indústria de Venture Capital e afetando diretamente todo o setor de tecnologia".


Aproveite e leia também: "Investimentos em fintechs: ainda há espaço nesse mercado?"


Como essas empresas podem se ajustar a esse atual cenário

Do ponto de vista de Galli, não existe um modelo ou segmento que possa ser mais atingido por conta da desaceleração nos investimentos em startups, mas ele destaca:


"A hora agora é de cautela, pois com investidores menos dispostos a injetar capital em empresas em fase de crescimento e, até mesmo, grandes organizações de tecnologia sendo fortemente descontadas nas bolsas, acredito que é hora das companhias revisarem suas estratégias para lidar com as contas e a pressão por crescimento em um momento que novos investimentos não devem ser tão facilmente distribuídos como em anos anteriores".


A fim de reduzir os impactos dessa queda no volume de investimentos, o Diretor de FP&A e Relações com Investidores da Movile ressalta que o desafio atual consiste em lidar com a necessidade de ações emergenciais de curto prazo sem perder eficiência, entregando resultados que acompanhem o otimismo do negócio.


"O principal foco agora deve ser atingir o breakeven, indicador financeiro que mede a capacidade do faturamento que uma empresa precisa ter para cobrir os custos fixos e variáveis. A principal recomendação é que as companhias conservem o caixa, mantendo a sobrevivência com os recursos financeiros que já estão à disposição".


No que se refere ao reflexo da desaceleração nos investimentos em startups já existentes, Galli reforça o fato de que estamos vivemos um momento de incertezas, no qual os recursos ficam mais escassos e os investidores, mais cautelosos.


"Por isso, é preciso repensar a estratégia e preservar o caixa, “esticando” o orçamento, também conhecido como run rate, preparando-se para a possibilidade de rodadas de investimento mais restritas.


O objetivo deve ser o de encontrar o ponto de equilíbrio da operação, quando a empresa não tem lucro nem prejuízo, voltando todos seus esforços para conservar seu capital para voltar a investir em um próximo ciclo de crescimento".


Qual será o futuro dos investimentos em startups?

Como dissemos logo na abertura deste artigo, o momento de desaceleração nos investimentos em startups levanta a dúvida se a "bolha estourou". Para o diretor de FP&A e Relações com Investidores da Movile, este não seria o caso no momento.


"A realidade do setor de tecnologia e do mercado de capitais é substancialmente diferente do que era no passado, não existindo valuations apoiados somente em ideias ou no hype da época das empresas 'pontocom', mas, sim, em empresas que entregam valor real aos seus clientes e encontram soluções concretas para melhorar a vida das pessoas.


Além disso, podemos considerar que o capital para investimento não desapareceu completamente, apenas está mais seletivo. Nunca existiu tanta liquidez no mercado global".


No que se refere à perspectiva de mudança desse atual cenário, Galli acredita que esse é um exercício de difícil previsão, considerando que há diversas situações possíveis.


"Em cenários mais pessimistas, analistas apontam que existe a possibilidade de uma grande recessão global, e não seriam apenas as startups a serem afetadas.


Por outro lado, existe a perspectiva de que a economia mundial possa se recuperar mais rapidamente e voltar a trajetória de crescimento.


Particularmente, acredito que o futuro deve estar em algum ponto no meio desses dois extremos. Considerando a velha máxima da economia que 'em momentos de crises sempre haverá oportunidades para aqueles dispostos a aceitar maiores níveis de risco' e, também o valor atual de ativos de tecnologia, podemos encontrar boas perspectivas de valorizações futuras".


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Gustavo Galli é Diretor de Planejamento e Análise Financeira & Relações com Investidores da Movile, sendo responsável por mensurar o desempenho e desenvolver estratégias para o portfólio das empresas investidas, além de impulsionar cada vez mais o potencial da companhia. O executivo tem 15 anos de experiência em planejamento, finanças e relação com investidores, e teve passagens pela GE Water & Process Technologies, Eldorado Brasil, Suzano e a Klabin. Galli é graduado em administração com ênfase em comércio exterior e pós-graduado em gerenciamento de projetos, ambos pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

 



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